Instituto Pensar - Pesquisa da Fiocruz quer medir o impacto social do confinamento imposto pela pandemia

Pesquisa da Fiocruz quer medir o impacto social do confinamento imposto pela pandemia

por: Nathalia Bignon 


Foto: Reprodução

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) iniciou uma pesquisa para conhecer o perfil e entender como os brasileiros estão enfrentando a quarentena durante a pandemia do coronavírus no país.

A pesquisa "Impacto Social do Confinamento pelo Surto de Coronavírus Covid-19 na América Latina – Brasil” pretende identificar como a população tem vivido no contexto social de confinamento imposto para conter a contaminação da doença e como isso tem afetado a saúde física e mental da população. A expectativa da Fundação é reunir dados que possam contribuir para o planejamento e a melhoria das ações no caso de emergências na saúde pública.

Em uma das etapas, a instituição utilizará o questionário online, aplicado durante o confinamento e, novamente, depois de seis meses. O formulário contém perguntas sobre a situação de confinamento, as condições de vida e a percepção de medidas políticas e de saúde pública, entre outras. Já a etapa qualitativa consiste em uma entrevista por telefone, que permitirá conhecer experiências vividas pela população durante o confinamento.

"Essa situação é nova para a América Latina e não há evidências anteriores sobre o impacto que o confinamento tem sobre essas populações. Em uma parceria internacional, vamos avaliar e comparar o impacto social gerado durante e após o período de confinamento, adotado como medida de prevenção e controle da Covid-19, na população residente no Brasil, Chile, Equador, Espanha e México”, explicou a pesquisadora Jakeline Ribeiro Barbosa, do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (Nevs) da Fiocruz Brasília, à frente do estudo no país.

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O projeto também busca investigar o impacto na psicologia e na economia dos lares do país. Os objetivos específicos da pesquisa incluem avaliar a percepção de risco e sintomas de ansiedade e depressão, além de conhecer experiências de convivência, mudanças de comportamento e situações de trabalho. A coleta de dados será feita de modo semelhante em cada país.

O que já se sabe

O confinamento foi apontado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como fator essencial para evitar a disseminação do coronavírus e proteger a saúde coletiva, mas são necessárias medidas que reduzam seus efeitos negativos na convivência e no bem-estar. Estudos anteriores, em outros locais, já associaram o confinamento a uma alta prevalência de conflitos emocionais, depressão, insônia e estresse, inclusive estresse pós-traumático.

"Os tomadores de decisões políticas devem adotar medidas para garantir que a experiência do confinamento seja o mais tolerável possível para as pessoas”, justifica o novo projeto. É necessário, portanto, identificar os grupos mais vulneráveis (no que se refere à saúde mental, por exemplo) e analisar as consequências para as diferentes populações.

Diferenças locais

Os países têm maneiras distintas de enfrentar a Covid-19. De acordo com os pesquisadores, "em muitos países europeus, por exemplo, há uma rede de proteção social e econômica, como a licença médica remunerada generalizada. No entanto, na América Latina, 140 milhões de trabalhadores dependem do setor informal, representando cerca de 50% dos trabalhadores”.

No Brasil, mesmo entre os estados, as diferenças existem, desde as medidas de distanciamento mais ou menos rígidas em cada Unidade da Federação. Diante desses cenários nacional e internacional, avaliar e comparar as diferentes medidas implementadas pelas autoridades pode contribuir para a construção de diretrizes que permitam minimizar os efeitos negativos associados ao confinamento.

Pesquisa e resultados esperados

Segundo os pesquisadores, é esperado que os trabalhadores autônomos e os que não contam com nenhum tipo de subsídio em face do desemprego sofram os piores impactos. É previsto também que a Espanha apresente melhores resultados, se comparada aos países da América Latina, e que os problemas se intensifiquem na segunda coleta de dados, que será realizada seis meses após a primeira.

De acordo com a equipe que lidera o projeto, "essas informações serão especialmente relevantes para identificar populações mais vulneráveis e desenvolver estratégias e recursos para elas”. Nesse sentido, o estudo pode trazer benefícios ao revelar como, "ao redor do mundo, estão sendo criadas alternativas para vivenciar a situação”.

Os resultados da pesquisa irão compor um relatório técnico a ser encaminhado ao governo de cada país participante, assim como artigos para divulgação científica e informes aos cidadãos.

Pesquisa internacional

Além da Fiocruz, estudo é conduzido pela Escola de Saúde Pública da Universidade do Chile, Instituto de Saúde Pública da Universidade Católica do Equador, Instituto Nacional de Saúde Pública do México e a Escola de Saúde Pública do México, com coordenação geral do Instituto Universitário de Atenção Primária IDIAPJGol da Espanha.

O questionário da pesquisa está disponível em bit.ly/impacto_confinamento_brasil.



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